“Há
mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia”.
Começando com esta máxima de William Shakespeare, começamos a refletir sobre os
grandes mistérios da religião que são, foram e continuam sendo omitidos aos leigos
durantes séculos e séculos sem fim, e levando muitas vezes a verdade a
continuar restrita a um grupo de privilegiados que se diverte com a ignorância
das massas.
Lilith,
John Collier (1892).
Entre estes mistérios um dos que mais
fascina os estudiosos é sobre as mulheres de Adão, o primeiro homem. Todos nós
conhecemos Eva, que é tida como a primeira mulher e que foi a companheira de
Adão, criada de uma costela dele. Porém muitos não conhecem a história de
Lilith, ou Lilit (em hebraico: לילית), que para muitos teria sido
a primeira companheira de Adão, criada do barro assim como ele para povoar a
Terra.
Os apoiadores desta teoria se baseiam em relatos
antigos, na mitologia hebraica, nos textos sumérios e, principalmente no
Alfabeto de Ben-Sira, escrito milenar que é contado para Nabucodonosor.
Mas é possível encontrar relatos em diversas culturas antigas, além da citação
na Bíblia, no livro de Isaias 34-14, na versão mais atual, porém em algumas
versões, Lilith é trocada por coruja (no inglês), ou por animal noturno aqui no
Brasil.
Segundo o manuscrito de Bem-Sira, Lilith
foi criada junto com Adão da mesma matéria prima dele, o barro. Muitos
estudiosos questionam o fato de ser citada a criação do HOMEM e da MULHER,
dando a entender que já na criação de Adão existia uma mulher, vejamos:
“Criou, pois, Deus o homem à
sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1:27.
Está claro que Deus
criou o Homem e a Mulher no sexto dia, ou seja, cria o
homem macho e fêmea no mesmo dia, o que é sustentado pela passagem seguinte,
capitulo 1:28:
"E Deus os abençoou, e
Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra ..."Gênesis 1:28
Uma pessoa mais desavisada poderia dizer que estamos
falando de Adão e Eva, porém Eva só será criada no capitulo 2 do Gêneses,
quando Deus percebe que Adão está sozinho (novamente?), e entende ser bom criar
para ele uma mulher (outra?), e interessante, é mencionado que esta mulher seja
adequada, idônea (a outra não era?), então como poderia abençoar a ambos e
recomendar a multiplicação de Eva ainda não tinha sido criada? vejamos:
“Disse mais o Senhor Deus: Não
é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.”
Gênesis 2:18.
A confusão interpretativa si dá a partir do momento em
que Deus cria o homem (ser humano) no capítulo 1, fazendo-o macho e fêmea, e
logo depois no capítulo 2, Ele cria uma (outra?) mulher, não mais do mesmo barro,
mas agora da costela de Adão:
"E da costela que tinha
tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem.".
Gênesis 2:22
E o caso fica ainda mais estranho no versículo
seguinte, na criação da (segunda) mulher criada da costela, quando Adão parece
gostar da (nova) mulher criada e faz um comentário bem peculiar:
"Disse então o
homem: Esta sim (ou ‘agora sim’, em
algumas versões), é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será
chamada mulher, porque do homem foi tirada."Gênesis 2:23
Se observarmos que em todas as traduções (inglês,
grego ou latim) não temos esta expressão "esta sim," ou "agora
sim,". O que temos é a versão -- "E disse Adão: Esta é
agora osso dos meus ossos..." -- "The man said,
"This is now bone of my bones..." - Gênesis 2: 23, onde fica
mais claro que Adão está falando de outra mulher.
Lilith teria caído em desgraça por causa de uma
disputa sobre igualdade dos sexos, onde ela não se sujeitava a servir ao homem,
muito menos a ficar por baixo durante as relações sexuais, introduzindo no
imaginário popular a idéia de ser ela a primeira mulher a rebelar-se contra o
sistema patriarcal e a primeira feminista. Dessa forma, é possível imaginar que
uma edição (corte) possa ter sido feita entre o capítulo 1:28 e o capítulo
2:21. O mais provável é que este corte tenha ocorrido em época bastante remota,
durante o Concílio de Trento, possivelmente, quando se supõe que o texto
escrito tomou uma forma próxima da atual. Mas para outros esse corte pode ter
acontecido muito antes. Acredita-se que o motivo da Igreja
Católica ter suprimido a criação (e posterior rebelião) de Lilith seria uma das
tantas tentativas da igreja de dar o tom patriarcal (machista?) às escrituras.
Deixando claro o lugar da mulher de submissa, abaixo hierarquicamente ao homem.
Sem contar que deixar passar uma criação, tal qual a de Adão, e que não deu
certo, que acabou se rebelando pelo próprio criador e se tornando um demônio,
uma maldita, não seria muito “católico”, por assim dizer:
“Deus teria criado
um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria
sido Lilith, figura bastante conhecida da antiga tradição
judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de
reivindicar igualdade foi a de recusar a forma de relação sexual com o homem
por cima. Por isso, fugiu para o Mar Vermelho. Adão queixou-se ao Criador, que
enviou três anjos em busca da noiva rebelde. Os três anjos eram Sanvi, Sansanvi
e Samangelaf. Os emissários do Senhor tentaram em vão
convencer à fujona. Ameaçaram afogá-la no mar. (...) Lilith
foi transformada em um demônio feminino, a rainha da noite, que se tornou a
noiva de Samael, o Senhor das forças do mal. (...) Lilith seria uma figura
sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os
homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um
ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As
crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante
muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos.
(...) Finalmente, uma outra tradição judaica afirma que a lendária rainha de
Sabá que teria visitado Salomão nada mais era do que Lilith. O sábio rei,
contudo, descobriu o ardil, ao levantar a saia da rainha e constatar que as
suas pernas eram peludas.” Jardim do Éden revisitado,
Roque de Barros Laraia.
A
teoria de Lilith, assim como a Bíblia, não tem como ser comprovada, é uma
questão de acreditar ou não, mas povoou o imaginário dos povos antigos
amedrontando, servindo como exemplo de punição aquelas mulheres que ousaram
questionar o poder patriarcal e o poder da Igreja, seja ela Católica ou
Protestante. O homem deve ser sempre a cabeça, e as mulheres subservientes,
abaixo das vontades de seus pais, maridos, irmãos, caso contrário serão as
Liliths expulsas do paraíso, errantes no mundo sem paz, destinadas a um mundo
de terror. Mas isso não tem mais espaço no mundo atual, é apenas fantasia de
povos antigos e medievais. Será?
Referência
LARAIA, Roque de Barros. Jardim do Édem
Revisitado. Universidade de Brasilia.
http://www.biblicalarchaeology.org/daily/people-cultures-in-the-bible/people-in-the-bible/lilith/
acessado em 12 de agosto de 2013
http://www.bibliaonline.com.br/
acessado em 05 de agosto de 2013
http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=69 acessado em 13 de agosto de 2013
http://conversateologica.blogspot.com.br/2011/08/lilith-outra-de-adao-que-biblia-nao.html acessado
em 18 de agosto de 2013
http://www.sobrenatural.org/materia/detalhar/4376/lilith_%E2%80%93_a_primeira_mulher_de_adao/ acessado
em 22 de agosto de 2013
http://oestranhocurioso.blogspot.com.br/2013/01/lilith-primeira-mulher-de-adao.html
acessado em 31 de agosto de 2013
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