domingo, 30 de março de 2014

O monge e a prostituta


Vivia um monge nas proximidades do templo de Shiva. Na casa em frente, morava uma prostituta. Observando a quantidade de homens que a visitavam, o monge resolveu chamá-la.
"Você é uma grande pecadora", repreendeu-a. "Desrespeita a Deus todos os dias e todas as noites. Será que você não consegue parar e refletir sobre a sua vida depois da morte?"
A pobre mulher ficou muito abalada com as palavras do monge; com sincero arrependimento orou a Deus, implorando perdão. Pediu também que o Todo-Poderoso a fizesse encontrar uma nova maneira de ganhar o seu sustento.
Mas não encontrou nenhum trabalho diferente. E, após uma semana passando fome, voltou a prostituir-se.
Mas, cada vez que entregava seu corpo a um estranho, rezava ao senhor e pedia perdão.
O monge, irritado porque seu conselho não produzira nenhum efeito, pensou consigo mesmo: "A partir de agora vou contar quantos homens entram naquela casa -até o dia da morte dessa pecadora".
E, desde aquele dia, ele não fazia outra coisa a não ser vigiar a rotina da prostituta: a cada homem que entrava, colocava uma pedra num monte.
Passado algum tempo, o monge tornou a chamar a prostituta e lhe disse: "Vê este monte? Cada pedra dessa representa um dos pecados mortais que você cometeu, mesmo depois de minhas advertências. Agora torno a dizer: cuidado com as más ações!"
A mulher começou a tremer, percebendo como se avolumavam seus pecados. Voltando para casa, derramou lágrimas de sincero arrependimento, orando: "Ó Senhor, quando vossa misericórdia irá me livrar dessa miserável vida que levo?"
Sua prece foi ouvida. Naquele mesmo dia, o anjo da morte passou por sua casa e a levou. Por vontade de Deus, o anjo atravessou a rua e também carregou o monge consigo.
A alma da prostituta subiu imediatamente aos céus, enquanto os demônios levaram o monge ao inferno. Ao cruzarem no meio do caminho, o monge viu o que estava acontecendo e clamou: "Oh, senhor, essa é a tua justiça? Eu, que passei a minha vida em devoção e pobreza, agora sou levado ao inferno, enquanto essa prostituta, que viveu em constante pecado, está subindo ao céu!"
Ouvindo isso, um dos anjos respondeu: "São sempre justos os desígnios de Deus. Você achava que o amor de Deus se resumia a julgar o comportamento do próximo. Enquanto você enchia seu coração com a impureza do pecado alheio, essa mulher orava fervorosamente dia e noite. A alma dela ficou tão leve depois de chorar, que podemos levá-la até o paraíso. A sua alma ficou carregada de pedras, que não conseguimos fazê-la subir até o alto".

Por Paulo Coelho 

O Golpe e sua desgraça


As grandes manobras políticas dão grandes guinadas na história. Em contrapartida geram consequências horrorosas nas pessoas. Sim, pessoas anônimas que nunca conspiraram nas esferas mais altas do poder sofrem desdobramentos, muitas vezes, tenebrosos.
Meu pai foi preso no primeiro dia do golpe, em 1 de abril de 1964. Ele saiu de casa para a Base Aérea e não voltou, por mais de um ano. Mamãe estava grávida. Nossa vida virou de pernas pro ar. Papai foi transferido para o Galeão, no Rio de Janeiro. Dentro do avião, os soldados o vendaram. A viagem aconteceu entre Fortaleza e o Rio de Janeiro sem que os presos soubessem quem estava a bordo. A certa altura do voo, a porta do avião se abriu e volumes foram atirados. Como todos estavam vendados, meu pai nunca soube ao certo se eles lançaram ao mar alguns de seus colegas de farda ou se era apenas uma tortura psicológica.
Sem salário, sem lugar para morar, sem notícias – ele esteve incomunicável por sete meses – mamãe passou por uma gravidez de alto risco. Ela carregava gêmeos. As complicações foram maiores do que podíamos imaginar. A menina morreu dois dias depois do parto. Apenas meu irmão, Sergio, sobreviveu.
Papai foi sumariamente expulso das Forças Armadas. Incluído em um dos Atos Institucionais, o 1 ou o 2, não sei – perdeu a patente. Depois de expulso, foi julgado. Como assim?  Como o expulsaram sem julgamento? Uma excrescência legal. Eu compareci ao tribunal – assisti à tudo. Na madrugada foi achado inocente. Mas nunca lhe reabilitaram. No olho da rua, teve que tentar voltar ao mercado de trabalho. O único emprego que deram a um subversivo: vender lâmpadas infra-vermelhas, que na época se acreditavam capazes de curar muitos males. Quantas vezes meu pai chegou em casa suado. Após bater na porta de casas de massagem, clubes, escolas, não conseguia vender uma única lâmpada. Vivemos meses e meses sustentados pela família da mamãe.
Papai sofreu, minha mãe passou por um purgatório e nós, os filhos, vivemos lampejos do inferno. Por quê? Por uma razão muito simples: acreditou-se na propaganda ianque de que o Brasil seria a próxima Cuba. As transnacionais, que enviavam lucros exorbitantes para suas  matrizes, viam os interesses ameaçados por João Goulart, um presidente que apostava na inclusão social, no estreitamento da brecha que separava os miseráveis dos biliardários.
Espalhou-se uma paranoia generalizada. Gente que mal sabia o que significava rasgar a Constituição e fechar o Congresso, pediu uma intervenção militar. Para salvar (grandes aspas aqui) o Brasil, um regime totalitário se instalou. Políticos lambiam as botas dos generais e os generais acreditaram ser os salvadores da pátria, enquanto se avassalavam aos ditames do grande capital. Havia coronel em tudo quanto era lugar. Delatores se matricularam em faculdades. Poetas e dramaturgos foram censurados; jornais, boicotados. Criou-se uma anomalia política – estapafúrdia – para garantir o poder dos generais: os senadores biônicos. Era um horror.
A corrupção, entretanto, nunca diminuiu. Falava-se em democracia, mas, nos porões das delegacias, jovens eram pendurados em paus-de-arara. Meninas, ainda nos primeiros anos de universidade, eram empaladas com cabo de vassoura. Choque elétrico e palmatória corriam soltos.
Stuart Angel, filho de Zuzu Angel, teve a boca amarrada ao cano de escape de um jipe e arrastado pelo pátio de um quartel do Rio de Janeiro até a morte.
Papai foi espancado e teve os testículos amassados por um porrete só porque um major encontrou uma tesourinha na cela onde ele estava preso. Conheci alguns de seus amigos de cadeia que jamais recuperam a saúde mental. Meu pai lutou com o alcoolismo e morreu com Alzheimer.
Em alguns dias o Brasil lembrará os 50 anos do capítulo mais sinistro de sua história.
Eu estarei entre os que vão chorar.
Por Ricardo Gondim

sábado, 15 de março de 2014

Sobre a Pena de Morte

A DERRADEIRA PUNIÇÃO
Todos os dias, prisioneiros – homens, mulheres e crianças – enfrentam a execução. Independentemente do crime que tenham cometido, sejam culpados ou inocentes, vêem as suas vidas reclamadas por um sistema de justiça que valoriza e prefere a retribuição em vez da reabilitação.
Cinco homens são publicamente enforcados em Mashhad, Irão, em Agosto de 2007
Cinco homens são publicamente enforcados em Mashhad, Iran, em Agosto de 2007
A pena de morte é uma punição extrema, degradante e desumana. Viola o direito à vida. Qualquer que seja o método de execução utilizado – eletrocussão, enforcamento, câmara de gás, decapitação, apedrejamento ou injeção letal -  a pena de morte constitui-se como uma forma de punição violenta que não deveria ter lugar no sistema de justiça atual.
E no entanto persiste.
Em muitos países, os governos justificam a utilização da pena de morte alegando que esta previne a criminalidade. Contudo, não existe qualquer prova de que este método seja mais eficaz na redução do crime do que outras punições severas.
A pena de morte é discriminatória. É frequentemente utilizada de forma desproporcionada contra pobres, minorias, certas etnias, raças e membros de grupos religiosos. É imposta e levada a cabo de forma arbitrária. Em alguns países é utilizada como um meio de repressão – uma forma brutal de silenciar a oposição política.
A pena de morte é irrevogável e, tendo em conta que o sistema de justiça está sujeito ao preconceito e ao erro humano, o risco de se executar uma pessoa inocente está sempre presente. Esse tipo de erro não é reversível.
A Amnistia Internacional opõe-se à aplicação da pena de morte, sejam quais forem as circunstâncias e trabalha no sentido da sua abolição em todos os países.
Uma violação dos direitos humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia-geral da Nações Unidas em Dezembro de 1948, reconhece a cada pessoa o direito à vida (artigo 3º) e afirma categoricamente que “Ninguém deverá ser submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes” (artigo 5º).
As Nações Unidas reafirmaram a sua posição contra a aplicação da pena de morte em Dezembro de 2007, quando a Assembleia-geral aprovou uma resolução na qual se pedia formalmente aos estados-membros que estabelecessem uma moratória para as execuções “tendo em vista a abolição da pena de morte”.
Um sintoma, não uma solução
Acabar com a pena de morte é reconhecer que esta faz parte de uma política pública destrutiva que não é consistente com os valores universalmente aceites. Promove uma resposta simplista em relação a problemas humanos complexos e acaba por evitar que sejam tomadas medidas eficazes contra a criminalidade. A pena de morte dá uma resposta superficial ao sofrimento das famílias das vítimas de homicídio e estende esse sofrimento aos entes queridos do prisioneiro condenado. Para além disso, desperdiça recursos que poderiam ser melhor aproveitados na luta contra o crime violento e na assistência aos que dele foram vítimas. A pena de morte é um sintoma de uma cultura de violência, não uma solução para a mesma. É uma afronta à dignidade humana e devia ser abolida.
O mundo tem vindo a abandonar a aplicação da pena de morte. Desde 1979, mais de 70 países aboliram a pena de morte para todos os crimes ou pelo menos para os crimes comuns. Mais de 130 nações eliminaram a pena de morte da sua legislação ou então não a aplicam, sendo que apenas uns quantos governos levam a cabo execuções a cada ano.
A Amnistia Internacional pretende:
  • Um adiamento nas execuções a nível mundial
  • A abolição da pena de morte para todos os crimes
  • Uma ratificação universal dos tratados que prevêem a abolição da pena de morte, incluindo o Segundo Protocolo do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, tendo por objectivo a abolição da pena de morte.
  • Que todos os países que ainda aplicam a pena de morte não a apliquem a crianças, em concordância com as suas obrigações internacionais.

A PAIXÃO PELO FUTEBOL!

O futebol é sem dúvida um desporto que arrasta multidões e que leva muita gente  no calor do entusiasmo ou  das decepções pelos maus resultados, a ter atitudes que só o futebol é capaz de os levar a ter.
Eu gosto, e me entusiasmo também com o futebol sobretudo com a selecção nacional. Vibro, salto, e grito se for preciso quando entra aquele golo que tanto nos alegra.
Mas...., não coloco nunca o futebol acima seja do que for e muito menos acima do que também quero e exijo com o que se passa no país,  com a política e medidas que dela derivam.
Por isso mesmo. fico muito decepcionada e desalentada, quando vejo o comportamento da maioria dos adeptos de futebol quando as derrotas acontecem ou os resultados não são os que eles esperam.
O que eu gostaria e muito, era ver as pessoas terem o mesmo tipo de revolta e exigência para com os políticos e governantes deste país que durante todos estes anos em que nos dizem vivermos em liberdade e democracia, nos têm destituído de tudo em que acreditávamos e levado ao descalabro.
Mas não..., o que eu vejo é pessoas indignadas e que fazem esperas nos aeroportos  ou ás portas dos estádios de futebol exigindo demissões dos treinadores e exigindo resultados vitoriosos...!
O país..., esse pode ser usado e abusado por quem obtém o poder.
Podem não nos respeitar minimamente e "depenarem-nos" cada vez mais, que ninguém sai à rua exigindo seriedade,  justiça a demissão de quem deliberadamente nos delapida ...! Não..., isso não os afeta minimamente.
O que ainda vão fazendo casualmente, é saírem à rua quando em alguns sectores  lhes é mexido nos bolsos. Aí ainda vai havendo alguma reacção, mas não entendem que toda essa mexida se deve sobretudo á falta de seriedade e desonestidade com que tratam o país e as pessoas que nele habitam.
Saem á rua durante uma horas, e só se forem como carneiros conduzidos por um qualquer sindicato. Caso contrário nem isso são capazes de fazer.
Vejamos o que fez o povo da Ucrânia que não baixou os braços enquanto não obteve o que pretendia!
E a revolta dos ucranianos não foi só uma questão de escolha de Europa ou Rússia. A revolta dos ucranianos foi também, ou sobretudo, derivada á pouca vergonha com que estavam sendo tratados; sendo cada vez mais prejudicados a vários níveis sociais, enquanto os governantes viviam cada vez mais num luxo ofensivo...!
É isso que dá na verdade categoria e valor a um povo.
Por cá continua tudo calmo e se aceitando tudo.
E por isso estamos cada vez mais vazios de tudo.

       " Se o povo lesse sobre política com lê sobre desporto,
          se escalasse os governantes como sabe escalar os clubes,
          se brigasse pelos direitos como brigam por futebol,
           a vida no Brasil seria outra, o país seria outro!"
        ( Banko Novackz)
Por Hercília Oliveira  

PALAVRAS DE MARQUETEIRO POLÍTICO

Por Tereza Halliday

Marketing político não é a minha praia. Mas, como analista de discurso e eleitora, gosto de observar a argumentação verbal e não verbal dos candidatos. Encontrei uma fonte da propaganda eleitoral moderna em livrinho (12x16cm), lido durante o  carnaval: “Como ganhar uma eleição” – 2013, Ed. Edipro, 126p. Escrito por Quintus Tullius Cícero, no ano 64 A.C.  Aprendi que os consultores políticos do  século XXI não inovaram em nada e que a política não piorou, está na mesma. Ou, no dizer de Maria Cristina Fernandes, editora política do jornal Valor Econômico: “política nunca se escreveu com p maiúsculo. Talvez porque seja feita por gente”. Ela aconselha que os eleitores leiam esse pequeno manual, para entenderem melhor como são tratados em campanha e por quê.
             O autor o escreveu em forma de memorando para seu irmão Marcus Tullius Cícero, eminente advogado e orador, candidato ao posto de cônsul, o mais alto do governo romano e um dos cargos mais cobiçados do mundo antigo. O destinatário conseguiu ganhar a eleição.  Eis algumas orientações que inspiram marqueteiros políticos até hoje: “Não existe ninguém, exceto talvez os partidários ardorosos de seus adversários, que não possa ser trazido para o seu lado com trabalho árduo e favores apropriados (...)  Há três coisas que garantem votos numa eleição: favores, esperança e ligação pessoal. Você precisa esforçar-se para dar esses incentivos à pessoas certas”. Conseguir partidários de um amplo espectro de origens sociais está entre as metas recomendadas. Assim como, semear entre os adversários o medo de ser denunciadas por seus atos corruptos e tentativas de corrupção. Mesmo que não chegue a denunciá-los. O candidato deve também demonstrar gratidão e apreço por seus apoiadores, sempre. Não passar imagem de populista. E cativar a todos, principalmente os que creem ter uma ligação pessoal com ele: “Mostre-lhes que, quanto mais trabalharem por sua eleição, mais íntimo será o vínculo entre vocês”. E ainda: “Você deve pensar constantemente em publicidade”.
            Finalmente, esta descrição de Roma no século anterior à era cristã: “cidade formada de pessoas de todas as origens, um lugar de ardis, conjuras e vícios de toda espécie imaginável. Para qualquer lado que você olhe, verá arrogância, contumácia, malevolência, orgulho e ódio”. Parece com alguma capital de país da atualidade?