Em ano de eleições é
comum vermos a população questionando a forma como são eleitos os candidatos
para os respectivos cargos em disputa. Os Prefeitos, Governadores, Senadores e
Presidente da República são eleitos pelo voto majoritário, ou seja, ganha quem
tiver mais votos, dá-se nesse caso maior importância ao candidato que ao
partido que ele é registrado. Existem dois tipos de majoritário, o simples e o
absoluto.
No majoritário simples
temos a vitória do candidato que obtiver a maioria simples dos votos, ela é
adotada nas eleições para Senador e Prefeitos em cidades com menos de 200 mil
eleitores. Já no sistema majoritário absoluto para considerar um candidato
eleito exige-se que ele tenha no mínimo a maioria absoluta, ou 50% mais 1 voto
dos votos válidos, ou seja, excluindo-se os votos brancos, nulos e abstenções,
no primeiro turno. Caso nenhum candidato atinja esta maioria, teremos um
segundo turno com os dois primeiros colocados do primeiro turno, e aí ganha
quem tiver mais votos dos dois. É adotado nas eleições para Presidente,
governadores e Prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores, art. 29, II
da Constituição Federal /1988.
Já a eleição para os
cargos de vereador e deputados estaduais e federais, são eleitos pelo sistema
proporcional, onde se dá valor ao número de votos válidos dados ao partido político
ou coligação. A ideia é que cada segmento da sociedade, composto pelas mais
diversas ideologias possam ter representação nos Parlamentos locais, regionais
e nacional. No sistema proporcional nem sempre quem tem mais voto se elege, o
que nos dá, às vezes, uma sensação de injustiça. Porém para saber como isso
ocorre, é necessário entender como funciona o sistema proporcional. Para tanto,
primeiro é preciso entender que no sistema proporcional as vagas das Câmaras
Municipais, das Assembleias Legislativas, da Câmara Distrital e da Câmara
Federal serão distribuídas em proporção aos votos obtidos pelos partidos ou
coligações e preenchidas pelos candidatos mais votados da lista da legenda ou
coligação (quando dois ou mais partidos se unem para disputar a eleição), até o
limite das vagas obtidas. O preenchimento das vagas é feito segundo o cálculo
dos Quocientes Eleitoral (QE) e Quocientes Partidário (QP) e distribuição das
sobras.
Antes
de aprender como calcular o QE e o QP, é preciso destacar que, na eleição
proporcional no Brasil, é o partido/coligação que recebe as vagas, e não o
candidato. Isso significa que, nesse tipo de pleito, o eleitor, ao votar,
estará escolhendo ser representado por determinado partido e,
preferencialmente, pelo candidato por ele escolhido. Em resumo, o voto do
eleitor na eleição proporcional brasileira indicará quantas vagas determinado
partido/coligação vai ter direito. Cabe ressaltar que, mesmo que um candidato
tenha votação expressiva, se o partido/coligação não ganhar vaga, tal candidato
pode não ser eleito.
A
partir daí, os candidatos mais votados poderão preencher as cadeiras recebidas
pelos partidos/coligações, conforme a sua colocação. Esse aspecto é o que
diferencia o sistema eleitoral proporcional brasileiro do adotado em outros
países. No Brasil, quem faz a lista de classificação dos candidatos (ordem de
colocação) é o eleitor, por meio do seu voto, isto é, o candidato que obtiver o
maior número de votos dentro de determinado partido/coligação ficará em primeiro
lugar na lista. É o que chamamos de lista aberta.
Como
se calcula o número de vagas por partido?
Na Legislação
Eleitoral “determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos
válidos apurados pelo número de lugares a preencher, desprezando-se a fração,
se igual ou inferior a meio, ou arredondando-se para um, se superior”. Isso
significa que:
QE = nº de votos válidos da eleição/ nº de lugares
a preencher
Nas
eleições estaduais e municipais, o número de votos válidos será dividido pelo
número de cadeiras das respectivas Casas Legislativas, por UF, DF ou por
município.
Para
exemplificar, vamos supor que o número de votos válidos apurados em um pleito
de determinado município seja 1.000, e que existam 10 cadeiras a preencher na
respectiva Câmara Municipal. Neste caso, o cálculo será o seguinte:
Nº de votos válidos = 1.000/nº de vagas a preencher
= 10, então QE = 100
De
posse do Quociente Eleitoral, é necessário calcular o chamado Quociente
Partidário. Determina-se, para cada partido político ou coligação, o quociente
partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral o número de votos válidos
dados sob a mesma legenda ou coligação, desprezada a fração”. Ou seja:
QP = nº de votos válidos recebidos pelo partido ou
coligação/QE
Exemplo:
se no mesmo pleito o partido recebeu 200 votos válidos, o cálculo será o
seguinte:
Nº de votos válidos recebidos pelo partido =
200/QE, então QP = 2
Após
os dois cálculos, é possível concluir que o partido terá direito a duas vagas
naquela Câmara Municipal, que deverão ser distribuídas entre os seus dois
candidatos mais bem colocados.
Cláusula
de barreira
Nestas
eleições, a distribuição das vagas entre os candidatos mais bem votados deve
considerar uma novidade implementada a partir da Lei n° 13.165/2015: a chamada
cláusula de barreira. Segundo a nova regra “Estarão eleitos, entre os
candidatos registrados por um partido ou coligação que tenham obtido votos em
número igual ou superior a dez por cento do quociente eleitoral, tantos quantos
o respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada
um tenha recebido”.
Entre
as consequências dessa inovação estão as seguintes: 1) Um candidato não será
eleito se o total de votos recebidos não corresponder a, pelo menos, 10% do QE;
e 2) Candidatos que tenham recebido poucos votos somente serão beneficiados
pelos chamados “puxadores de voto” se seus votos tiverem alcançado os 10% do
QE.
Continuando
com o mesmo exemplo, vamos supor que o primeiro candidato da lista do partido
tenha recebido 11 votos e, o segundo, nove votos. Vale lembrar que, para ser
eleito, o candidato deve estar colocado dentro das vagas disponíveis para o
partido (neste caso, duas vagas), e o número de votos obtidos por ele deve
corresponder a, pelo menos, 10% do QE (que foi de 100).
Nessa
situação hipotética, apenas o primeiro da lista do partido será eleito, já que
os votos recebidos pelo segundo não alcançam 10% do total do QE (que seriam 10
votos). Dessa forma, apesar de o partido ter direito a duas vagas, apenas uma
será preenchida por candidatos daquela legenda.
Cálculo
das sobras
Em
uma eleição proporcional, é possível que, após a distribuição das vagas entre
os partidos, restem cadeiras para serem preenchidas, as chamadas “sobras”.
Estas serão distribuídas por um cálculo conhecido como “Média”. Porém, somente
disputarão as sobras os partidos que tiverem Quociente Partidário maior que 1.
Veja
o exemplo a seguir para a eleição de determinada Câmara Municipal, na qual
existam 10 cadeiras para ser preenchidas e quatro partidos na disputa:
Partido
1 – obteve 200 votos - QP = (200/100) = 2,0 → ele terá direito a 1 vaga
OBS: Levando
em consideração o exemplo acima, mesmo tendo o partido direito a duas vagas
pelo cálculo do QP, apenas um candidato teria votação correspondente a mais de
10% do QE. Assim, a outra vaga não pode ser preenchida.
Partido
2 – obteve 140 votos - QP = (140/100) = 1,4 → ele terá direito a 1 vaga
Partido
3 – obteve 350 votos - QP = (350/100) = 3,5 → ele terá direito a 3 vagas
Partido
4 – obteve 310 votos - QP = (310/100) = 3,1 → ele terá direito a 3 vagas
A
distribuição destas vagas que sobraram serão distribuídos por média.
O
cálculo será feito da seguinte forma: o número de votos válidos atribuídos a
cada partido político/coligação será dividido pelo valor do quociente
partidário somado às vagas obtidas por média mais um, cabendo à legenda ou à
coligação “que apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha
candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima”. Isto é:
Média = votos válidos recebidos pelo partido/(vagas
obtidas por QP + vagas obtidas por média) + 1
Então,
seguindo com o nosso exemplo, vamos ao cálculo das médias:
Partido
1 – obteve 200 votos/2 vagas obtidas por QP + 0 vagas obtidas por média + 1 =
66,66
Partido
2 – obteve 140 votos/1 vaga obtida por QP + 0 vagas obtidas por média + 1= 70
Partido
3 – obteve 350 votos/3 vagas obtidas por QP + 0 vagas obtidas por média +1 =
87,5 *
Partido
4 – obteve 310 votos/3 vagas obtidas por QP + 0 vagas obtidas por média +1 =
77,5
A
primeira vaga das sobras foi distribuída para o Partido 3, que obteve a maior
média e possui candidato com votação mínima para ser eleito.
De
acordo com a legislação, a primeira vaga das sobras será destinada ao
partido/coligação que obtiver a maior média, conforme exemplo acima. Caso sobre
uma segunda vaga, deverá ser feito novo cálculo, mantendo-se o mesmo dividendo
e incluindo no divisor do partido que ganhou a primeira vaga mais uma vaga (a
da primeira sobra). Em resumo, este novo cálculo será:
Partido
1 – obteve 200 votos/2 vagas obtidas por QP + 0 vagas obtidas por média + 1 =
66,66
Partido
2 – obteve 140 votos/1 vaga obtida por QP + 0 vagas obtidas por média + 1 = 70
Partido
3 – obteve 350 votos/3 vagas obtidas por QP + 1 vaga obtida por média + 1= 70
Partido
4 – obteve 310 votos/3 vagas obtidas por QP + 0 vagas obtidas por média + 1 =
77,5*
P.S.
/ = dividido
A
segunda vaga das sobras foi distribuída para o Partido 4, que obteve a maior
média na segunda execução do cálculo da média e possui candidato com votação
mínima.
Esta operação será
repetida quantas vezes forem necessárias até o preenchimento de todas as vagas.
Entretanto, de acordo com o inciso III do art. 149 da resolução, quando não
houver mais partidos ou coligações com candidatos cujos votos tenham atingido,
ao menos, 10% do QE, “as cadeiras serão distribuídas aos partidos que
apresentem as maiores médias”.
Fonte: TSE
Fonte: TSE
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