sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Entrelinhas III







Pensamento do dia: Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.
Martin Luther King

A sombra de um padre

Olá, meus amigos de Brejo da Madre de Deus, causou muita repercussão na sociedade a entrevista que o ex-vice-Prefeito, Padre Antônio Maciel, deu ao nosso amigo Marcelo Santacruz. Ele se apresenta como bem resolvido e diz guardar com carinho a experiência de ter sido vice-prefeito de nossa cidade, mas também com mágoa, não das pessoas ou da cidade, mas do seu companheiro de chapa, que teria, em sua opinião, tolhido seu espaço e não o deixou trabalhar. Relatou com certa rispidez uma conversa de bastidores com o ex-prefeito sobre o fato de quem realmente tinha prestigio político e isso teria sido o motivo de seu afastamento do governo naquela época. Ao falar que o ex-prefeito tinha medo da sombra do padre lembramos que além de Padre Antônio, fazia parte do Governo amarelo, Padre Pedro Aguiar. Ex-padre, é verdade, mas conhecido por todos e respeitado, como padre e muito querido pela população e que também fazia uma bela gestão na Secretaria de Agricultura e que também fazia muita sombra ao ex-prefeito, consequentemente, medo. Os dois tiveram tratamento semelhante.


Mas será que era só de padre que o ex-prefeito tinha medo? Ao analisarmos a história vemos que não era só da sombra dos Padres que ele tinha medo. Causava-lhe arrepios um advogado experiente com respaldo na sociedade; uma professora com capacidade de mobilização; um produtor cultural com prestigio em todo o Estado, um casal que residia em Caruaru, mas principalmente um médico que fora mais aplaudido que o ex-prefeito em sua posse. Todos faziam um bom trabalho a frente da Prefeitura e começavam a ganhar visibilidade. Precisavam ser afastados. Pois não era a sombra de um Padre apenas que o ex-prefeito tinha medo, seria qualquer um que ganhasse a simpatia da população. Qualquer um que se destacasse, seria convidado a apear da gestão. Segundo relatou Padre Antônio, o próprio vice foi um exemplo disso, ao perceber que ele estava ganhando a simpatia da população, trataram logo de afastá-lo da administração.     
  Pelo que percebemos da conversa com Padre Antônio, quem mostrava serviço, era isolado e depois excluído do Governo. Estava claro quem deveria aparecer e ser o astro principal. Logo o Governo ficou capenga, e o Padre não teve tempo de ensinar a mensagem de Santo Agostinho: Prefiro junto a mim os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me cegam e corrompem. 

O padre reclamava da falta de espaço, de oportunidade e de confiança. Termos semelhantes o Vice-Presidente da República, Michel Temer, usou na carta enviada a Dilma no final do ano passado, alegando desprezo, falta de confiança e do fato dele não passar de um mero vice decorativo, talvez algo que o ex-prefeito desejasse ter. Mas qual o papel de um vice?
O vice-prefeito é o segundo na hierarquia do Executivo municipal. Caso o prefeito precise se ausentar por motivo de viagem ou licença, ou tenha o mandato cassado, ele assume as funções do titular. Enquanto o prefeito está em exercício o vice deve auxiliar na administração, discutindo e definindo em conjunto as melhorias para o município. É esta última parte a qual se referia o Padre Antônio e, portanto, lhe imbuia uma reivindicação legitima. O mesmo se verificou com a sua vice no segundo mandato e mesmo na escolha de seu candidato a sucessor, onde é fato que existiam nomes melhores para a disputa, no entanto ele preferiu aquele que lhe fosse mais confiável, e não o melhor para a cidade ou seu grupo político.
Modo de agir muito diferente de outro líder político de nossa cidade, o também ex-prefeito, secretário Estadual de Agricultura e ex-deputado, Zé Inácio, que sempre procurou incentivar a criação de novos quadros e atento as transformações na política. Se formos observar os últimos nomes de destaque no cenário político da cidade, vamos encontrar sempre a mão de Zé Inácio. Hoje esquecido por muitos, ainda é uma das principais referências da política brejense, ao lado de Paulo Mendonça com quem rivalizou por muitos anos, servem de exemplo para aqueles que pretendem ingressar no meio político com seus erros, suas contradições, suas vaidades, mas também a visão que ambos tinham de que, na política, nada se constrói sozinho. 



Valdeci Ferreira Junior é professor das Faculdades Mauricio de Nassau, Professor das redes Municipal de Brejo da Madre de Deus e da rede Estadual de Ensino, Acadêmico do Curso de Direito da Unifavip e analista político. 

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