domingo, 20 de novembro de 2016

Entrelinhas XVII


Pensamento do dia: “Nenhum vencedor acredita no acaso”.


Quando Vencer é mais que uma Questão de Sorte
 Olá meus amigos de Brejo da Madre de Deus, me responda quem souber, qual o segredo dos vencedores? Benjamim Franklin diria “As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo”. Talvez quem saiba não possa contar, ou não queira. Mas existem sempre dicas e orientações, pistas, que nos ajudam a desvendar estes segredos. Houve um tempo em que as eleições eram baseadas no nome dos candidatos: Miguel Arraes, Getúlio Vargas, Zé Inácio, Paulo Mendonça, etc. Era só estes personagens anunciarem sua candidatura e a eleição estava garantida. Mas as campanhas eleitorais não são mais assim, basta olhar o atual cenário e não vemos grandes nomes. Conversando com alguns especialistas que passam a vida analisando política e disputas eleitorais, e vivem disso, eles garantem que existe sim uma fórmula para a vitória, passando sempre por três pilares: dinheiro, grupo político e planejamento.
Sabemos que o sistema eleitoral brasileiro não é de muita confiança, pois cada eleição tem uma regra diferente, por isso se preparar é fundamental. Todos nós nascemos para vencer, mas para ser um vencedor você precisa planejar a vitória, se preparar para a disputa, e esperar o resultado positivo. A vitória não vem para o despreparado ou para aquele que não a espera, mesmo nos resultados mais adversos e mais surpreendentes, o vencedor tinha certeza que iria vencer. Nunca vi time que ganhou no estádio do adversário não ter um grupo de torcedores para comemorar. Aqueles sabiam que venceriam. Ou seja, não importa qual seja a disputa, nem sua posição inicial nessa. Se prepare para vencer! Imaginem Eduardo Campos com 4% nas pesquisas em março de 2006, se não tivesse se preparado para ganhar não teria obtido a espetacular vitória 7 meses depois.
O primeiro passo para uma vitória é saber se tem os recursos financeiros suficientes para enfrentar a disputa. Nada adianta ter a estrutura, saber o que fazer, conhecer o caminhos se não tem como realizar estas estratégias. Se não tem, como pode conseguir? O que sempre acontece nas eleições municipais com dois grupos é que existem empresas e pessoas que dependem do Governo e não querem perder seu negócio, por isso financiam quem está no poder, aqueles que não estão dentro do sistema e querem entrar, apoiam o candidato da oposição, porém o seu risco é maior, pois não há garantia alguma em caso de derrota. O bom candidato sabe se colocar nessa situação para conseguir os recursos necessários para sua candidatura.
O outro passo, garantido os recursos financeiros, é ter um grupo político. De que adianta ter o dinheiro se não sabe, nem tem com quem gastá-lo? Até para gastar dinheiro deve-se mostrar competência. Já vi muitos candidatos com muito dinheiro perderem a eleição, quer um exemplo? Eleição municipal de Caruaru em 1996, o candidato do Governo, Adolfo José, dono da empresa de transportes Coletivo, tinha os recursos em maior quantidade que seus adversários juntos, no entanto teve apenas 8% dos votos. Outro exemplo as eleições de Brejo da Madre de Deus do mesmo ano, o adversário de Zé Inácio tinha muito mais dinheiro para gastar que seu adversário. O que faltou? Em ambos os casos grupo. As pessoas responsáveis por fazer a campanha não souberam administrar os recursos, gastaram errado. Ter muito dinheiro numa campanha pode ser ruim se você não souber o que fazer com ele ou tiver um grupo displicente. Um grupo forte é importante para disseminar o nome do candidato pelo Município, representa-lo nos lugares em que ele não puder estar, defende-lo diante de alguma acusação injusta ou agressão por parte do adversário. Sem grupo para carregar o andor, o santo não sai do canto. Ulisses Guimarães nas eleições Presidenciais de 1989 tinha o maior partido do país, o PMDB, no entanto teve 4% dos votos, típico de partido nanico, faltou grupo.
Nada vai adiantar se você tiver o dinheiro, tiver o grupo, mas não tiver planejamento, talvez seja esse o principal fator de uma eleição, pois um bom planejamento supera até as dificuldades orçamentárias e a falta de grupo. Eduardo Campos não conseguiu terminar a campanha de 2014, mas claramente víamos que ele tinha muito menos recursos que o Dilma e Aécio, e um grupo muito mais reduzido do que os que apoiavam a candidata do PT e o candidato do PSDB. Ambos são partidos nacionais, que tem governadores em Estados importantes e prefeitos de capitais e cidades de expressão, além de terem outros grupos de apoiadores, partidos políticos, também de grande peso no cenário nacional. O pequeno PSB de Eduardo era um partido de pequena expressão ainda e seu nome pouco conhecido no cenário nacional, porém seu planejamento estratégico era impressionante. Para vencer os poucos recursos, ele iria usar a articulação popular se utilizando da indignação das pessoas contra a política repulsiva que tomava conta do país e que fora percebida por todos nos recentes episódios de impedimento de Dilma. Contra a falta de grupo ele apostava nas dissidências de um grupo ou do outro, pois ambos governaram o país e não tinham atacado os pontos que mais incomodam a sociedade brasileira. Para isso Eduardo contava com um discurso poderoso e um carisma de político nato que aprendera no tempo em que fora auxiliar de seu avô Miguel Arraes.
Não quero dizer que para ser candidato e chegar a vitória você precisa ser um Arraes ou um Eduardo Campos, não é isso, apenas que mesmo você tendo o talento para entrar na política se não tiver as ferramentas para se colocar na disputa, será um eterno candidato, assim como Lula em 1989, 1994 e 1998. Ele teve de parar, pensar e rever todas as suas histórias, planejar a campanha, o que falar, como falar e quando falar. Como se portar e se dirigir as pessoas. O Lula de 2002 não parece nada com o Lula de 1989 e é o maior exemplo que temos de como uma campanha bem pensada diminui as chances de derrota, ou talvez você queira pensar como Stael, que diz: “A conquista é um acaso que talvez dependa mais das falhas dos vencidos do que do gênio do vencedor”, mas quem vai confiar no erro do outro?
 As eleições brasileiras, até pela legislação, estão se tornando cada vez mais profissionais, não é apenas a vontade. Estamos nos aproximando das eleições americanas, onde por traz de um candidato HÁ um batalhão de pessoas que o assiste (advogado, contador, assessor de comunicação, voluntários, mobilizadores, etc), o mandato não pertence a uma pessoa, mas sim a um grupo de pessoas. No Brasil estamos chegando a este nível, esperamos que os eleitores também estejam chegando também, pois lá não existe lei de ficha suja, basta o eleitor saber que o candidato está envolvido em algum indicio de coisa errada para ele nunca mais ser votado. Esperemos que os eleitores brasileiros alcancem este nível de amadurecimento um dia, lá eles votam há mais de 260 anos, aqui temos menos de 30, de experiência, o aprendizado é longo.    


Valdeci Ferreira Junior é professor das Faculdades Mauricio de Nassau, Professor das redes Municipal de Brejo da Madre de Deus e da rede Estadual de Ensino, Acadêmico do Curso de Direito da Unifavip e analista político. 

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